“Surfcasting”
Boas pessoal
(amigos, leitores e seguidores)
Desde já vos
aviso, preparem-se para ler 😊
Esta foi uma
jornada do caraças. Tudo começou como sempre, a logística de preparar o
material, decidir qual o isco a levar, estudar bem as previsões e escolher a
praia mais indicada para a ondulação que estava naquele dia.
Cheguei bem
cedo como eu gosto e fui espreitar duas praias que combinavam com aquele mar, o
primeiro spot não me agradou nada e o segundo pouco ou nada me agradou, mas
gostei mais da cor da água e decidi ficar por ali, pois não gosto de dar muitas
voltas porque no fim quase sempre acabo por ficar numa das primeiras praias que
vi, quantas e quantas vezes isso me aconteceu, então essa é uma asneira que eu
já não faço…
Bom… Mas
vamos lá à acção, sim acção; porque como eu disse no início esta foi uma
jornada do caraças. Com os dois primeiros lançamentos feitos e as canas já a
pescar sentei-me um bocado a beber um café com um chocolate, quando vejo uma
das canas dar um toque e vergando logo de seguida, mas esperam aí; vergou mas
vergou como eu nunca tinha visto, aquilo parecia um comboio a puxar a linha,
preguei um salto e lá se foi o café e o chocolate, agarrei-me à cana que mais
um pouco saltava do suporte e ia mar adentro a reboque daquela coisa, nunca
tinha sentido uma força assim e aquilo fez-me disparar o batimento cardíaco a
uns 200%, acreditem que por momentos fiquei sem saber o que fazer, depois daquela
força demolidora me ter levado talvez uns 100m de linha, assim como
começou assim acabou e fiquei apenas com o peso da chumbada.
Ainda sem saber ao
certo o que tinha acontecido, recuperei e quando a pesca me chegou às mãos vi
que aquela coisa me tinha cortado um 0,40 com os dentes. Pensando eu em voz
alta claro (fonix mas o qué esta merda que anda aqui, será que foi uma
anchova!!?) pois elas têm andado na zona, mas de repente veio-me à ideia, epá isto deve mas é de ser
os tubarões (tintureira) que andam aí, pois nesta altura do ano costumam
encostar nestas praias…
Bom, mas o
tempo passou e 2h mais tarde sem sinal de qualquer peixe estava eu muito bem
descansado a comer uma batata-doce e nisto a mesma cana tóóómmmma lá vem o
comboio outra vez, olhem que eu não sou de ir a correr para a cana, gosto de
ver o peixe bater e ao mesmo tempo vou andando nas calmas em direcção à mesma,
a não ser que haja pedras no pesqueiro, mas desta vez preguei um salto e lá se foi
a batata-doce pó caneco também, agarro-me à cana e este parecia ainda maior do
que o outro, começo a suar e as minhas pernas tremiam que nem varas verdes, com
o drag apertado o suficiente para um 0,24 que usava naquele dia, aquela
força demolidora teimava em não abrandar e quase me vazava o carreto, de um
momento para o outro deixei de sentir o peixe e agora já sabia o que tinha
acontecido, recuperei e claro que a linha estava corta pelos dentes daquela
coisa.
Naquele momento senti-me um pouco frustrado para não dizer muito,
sentei-me cerca de vinte minutos a falar sozinho e a fumar um cigarro e outro e
mais outro e só depois é que fui fazer um estralho novo mas desta vez com 0,50 que era o mais grosso que tinha comigo neste dia…
Tudo ok e
canas na água a pescar, entretanto já tinha passado mais um par de horas e nem
sinal de peixe, pudera com aqueles predadores na zona nem um peixe que se
aventurava a passear naquela praia, só se fosse algum camicase 😊
A noite estava
calma e serena, não se passava nada, eu pensava em sei lá no quê e quando olho
para a cana da esquerda que ainda não tinha dito nada a noite toda, estava completamente
dobrada (Óhh minha mãezinha, lá vem o comboio outra vez) pensei eu em voz alta
e mais alguns palavrões pelo meio, corri para a cana e quando lhe pego o
carreto zunia que nem um pião, pouco depois sinto uma pancadinha estranha e a
bobine parou de rodar, coisa que nunca tinha sentido e acendo a luz para ver o
que tinha acontecido, quando olho para a bobine estava completamente vazia (Áhh
mãe qué iste móóó, NO LINE, onde é que eu já vi isto, agora quero ver como é
que me safo desta) peguei na cana e o comboio continuava a puxar, a única coisa
que eu podia fazer naquele momento era acompanhar o bicho e lá fui andando atrás
do “comboio” entrando um pouco dentro de água tentando aguentar aquela força
demolidora, linha para levar já não tinha, portanto das três uma; ou cortava
com os dentes, ou partia tudo ou então vinha para terra custasse o que
custasse.
Os minutos
foram passando e a linha sempre em tensão, havia momentos em que parecia que a
pesca estava areada, deu-me a sensação que isto é bicho que se “deita” no fundo
e eu com uma linha 0,24 não podia forçar em demasia, bom mas aos poucos aquela
coisa lá começou a ceder, quando ele aliviava eu aproveitava e recuperava uns
metros, volta e meia ele tirava-me dois ou três metros de linha mas logo de
seguida eu recuperava cinco ou seis e assim lá fui conseguindo dar a volta ao
resultado, mas sempre à espera do momento em que o velhaco me cortasse a linha
ou que o nó do chicote rebentasse.
Entretanto já tinham passado quase trinta
minutos e eu naquele momento só queria ter um bracinho direito suplente para
trocar, pois as dores no braço já eram tantas que não sabia como haveria de agarrar
na cana.
Com o Tubarão a entrar na zona de rebentação surgiam agora mais dois
problemas, o nó do chicote que é o ponto mais frágil da linha e as escoas que
não ajudavam em nada, sem ninguém na praia para me ajudar tive de me
desenvencilhar sozinho, tentem imaginar o que foi aquilo (aguenta bracinho que
já tá quase) eu só queria pôr os olhos no responsável por tal batalha e quando
senti o nó do chicote a passar a ponteira pensei: (é agora ou nunca) aproveitei
a ajuda das ondas que naquele momento estavam a meu favor e enrolei o máximo que
pude, acendi a luz e lá estava o Tubarão com um palmo de água a tentar apanhar
boleia da escoa, nem sabia como pegar naquilo para o puxar para cima, agarrei-o
pelo rabo e arrastei-o pela areia até uma zona de segurança onde me deitei
alguns minutos a olhar para aquele que foi um adversário formidável, não sei
qual dos dois estava mais cansado, se ele ou eu.
Agora tinha de o arrastar até
à “base” onde tinha as minhas coisas, acho que me tinha dado menos trabalho se
tivesse ido buscar a tralha toda para onde estava o velhaco, porra eu queria
apanhar um peixe grande mas também não era preciso ser uma coisa assim…
Não sendo eu
nenhum especialista em tubarões depois disto andei a pesquisar e cheguei à
conclusão que lhe chamam vários nomes, tubarão tintureira ou tubarão azul, em
outros países chamam-lhe tubarão bico doce, tubarão de focinho e tubarão
vitamínico.
Neste dia o
material foi posto à prova sendo levado ao seu limite máximo.
Depois disso
houve tempo para tudo e mais alguma coisa, tirei umas fotos, disse palavrões,
admirei-me, ri-me eu sei lá mais o quê…
Agora tinha
outro problema, era levar o bicho até à carrinha, o Tubarão tinha um lombo
mais grosso do que a minha coxa, não foi tarefa nada fácil e tive de fazer duas
viagens, metê-lo na geleira claro que era impensável, com uma geleira tão
grande que eu próprio fiz para meter peixes compridos e agora o raio do Tubarão
não me cabe na geleira 😂
Agora
imaginem se tivesse apanhado os três 😊
Uma coisa é
quase certa, este vai ficar para a história, foi, é e será certamente o maior
peixe da minha vida, media 1,62cm e pesava 21 Kg.
Assim sendo
este é agora o meu novo recorde.
Bom mas
depois daquele estrafego todo deu-me cá uma foméca que não vos digo nada,
quando cheguei à carrinha lá tive de fazer uns ovos mexidos com salsichas para
repor energias, um gajo tem de comer alguma coisa se não depois como é que
tenho força pa puxar Tubarões 😂
Pessoal aproveito para informar que vou fazer
uma paragem de três ou quatro meses como já vem sendo hábito nesta altura do
ano, quem me segue há já uns anos sabe que eu não gosto de pescar no verão por
vários motivos sendo o calor e a confusão no Algarve o principal motivo.
Termino assim esta temporada.
Tive dias
bons, tive dias maus, tive dias de frustração total, tive noites húmidas e
frias, geladas e desagradáveis, tive noites de não apanhar nada
mas que só de estar lá já valeu a pena pelos cheiros, pelos sons e pela
sensação que isto tudo junto provoca em mim, o escuro, o som do silêncio da
noite, sair do saco cama às 3/4/5 h da madrugada com temperaturas negativas só
porque estava na hora da maré e por vezes não apanhar nada, são tudo coisas que
fazem parte e que me fazem sentir vivo, não me perguntem porquê porque eu nem
sei responder…
Saúde e
força aí pessoal.