terça-feira, 26 de abril de 2022

Ataques Madrugadores

“Spinning”

Viva amigos!

Não sei bem por onde começar este relato de uma pesca que quase não acontecia, mas vamos lá… De salientar que só fiz esta jornada porque uns dias antes a previsão era diferente e mudou à última da hora quando eu já tinha tudo preparado para arrancar. Então neste dia comecei por fazer o aceio da tarde com mar forte onde o vento lateral me atraiçoava os lançamentos e como se não bastasse vinha acompanhado de uma chuva miudinha que me lavava a cara e escorria pela barba, foram cerca de 3h de dedicação máxima sem qualquer resultado, caso para dizer que não havia vida no mar.

Fiz a subida já de noite e aquela chuvinha que caiu transformou-se em lama que escorria pelo aceiro abaixo e me fazia patinar a cada passo que dava. Quando cheguei à carrinha a chuva tornou-se mais forte e tive de preparar qualquer coisa para jantar naquele cenário desconfortante e sem o mínimo de condições para tal (Áhh queres pesca!!! Atão toma lá pesca!!!) “é fácil” depois de comer à chuva todo enrolado tinha outra missão que era despir o fato de neoprene e o corta-vento o mais rápido possível e arrumar aquilo tudo, tentar limpar-me à chuva todo nu e enfiar-me dentro da carrinha, aquilo filmado devia ter sido uma coisa engraçada de se ver, engraçado para vocês porque para mim não teve piada nenhuma. Já dentro da carrinha a salvo daquela borrasca apressei-me a vestir umas roupas quentes e espreitei as últimas actualizações do vento e do mar, as novidades não eram nada animadoras e deitei-me com a dúvida de se ia ou não fazer o aceio da manhã como tinha planeado…

Ás 4:30h tocava o despertador a avisar-me que estava na hora do ataque, o objectivo era começar a pescar às 5:30h mas a moral estava em baixo e o corpo ainda cansado de marés anteriores, abri o vidro da carrinha e assim que meto a mão de fora verifiquei de imediato que o vento não era o melhor, naquele momento já não chovia e as estrelas afastavam as nuvens para espreitar, quanto ao mar só mesmo arrumado a ele é que conseguiria ter alguma ideia de como estaria… Por momentos decidi abortar a missão e ficar dentro do saco cama em vez de ir apanhar mais um chibo, mas já estava acordado e desperto e não ia conseguir adormecer outra vez, lembrei-me que talvez nem tão cedo volte a poder estar aqui e olha que se lixe, uma coisa era certa; que ali deitado é que não ia apanhar mesmo nada, meti o CD mágico a tocar e saltei do saco cama, vesti o vadeador e sem comer nada lá fui eu por ali abaixo com a convicção de que ia ser mais um ZERO dos grandes para o meu curriculum, no entanto confortava-me a consciência de que pelo menos não fiquei deitado e fui à luta. No terreno e perto da rebentação apercebi-me de que as condições eram difíceis, o mar quebrava por fora e voltava a quebrar em seco novamente não me deixando aproximar o suficiente para tirar mais partido dos lançamentos e enquanto isso o vento continuava lateral.

Uma vez que ali estava não me restava outra solução a não ser adaptar-me às condições e lutar contra aquele mar que estava quase impossível para a prática do spinning mas que ao contrário estava um luxo para o surfcasting, isto da pesca é assim e às vezes fazemos as escolhas erradas.

Lançamentos uns atrás dos outros, muitos deles eram gorados ou pela força do vento ou pela força do mar, penso que a média era em cada cinco lançamentos haviam dois que vingavam e mesmo assim nunca conseguia lançar muito longe, até que ferro uma baila boa com o dia já quase a nascer, peixe guardado e pouco depois cravei o robalote mais pequeno da jornada que também guardei juntamente com a baila, pouco depois lá vem mais um robalete sem medida que foi libertado e a seguir veio outro que até parecia o mesmo ou então era irmão gémeo, peixe libertado e o mar entretanto mandava uns sets com tamanho e força que me obrigaram a fazer “porta de armas” durante uns minutos.

Assim que consegui lançar e meter a amostra na água a trabalhar bem já lá tinha outro robalote porreiro a debater-se, peixe cá fora e disse para mim mesmo que apesar de tudo já estava satisfeito com a pesca que tinha, pois nem me passava pela cabeça sentir aqueles peixes com as condições que estavam, mas ainda não tinha acabado e lançamento atrás de lançamento tentava fazer uma pesca melhor só que o mar teimava em dificultar-me a vida, no entanto; um a um lá fui compondo a saca com capturas não muito grandes mas de boa qualidade, pelo meio destes que guardei ainda tive mais dois que se desferraram ali aos meus pés, também faz parte destas lides e ao menos a ideia com que fiquei foi de que eram peixes da mesma bitola destes e não eram “os grandes” como já aconteceu no passado…

No final de tudo isto terminei com seis peixes na saca num dia de condições extremas para a prática do spinning, num dia que eu quase que ficava deitado no saco cama enquanto os robalos se passeavam lá em baixo, num dia em que tinha tudo para ser aquele dia mas que devido às fortes condições ou por má escolha minha acabou por ter sido um dia bom na mesma. No final doía-me o esqueleto, estava cansado mas satisfeito, esta foi uma daquelas jornadas que ficará para sempre na minha memória, não pelo que foi mas sim pelo que poderia ter sido e da forma como tudo aconteceu…

Natureza_01

Natureza_02

Lixo velho que foi deixado no sítio errado por alguém que está a mais neste mundo 

Desfiei umas poupas de baila que tinha sobrado do dia anterior e reguei com uma cebolada de alhos, azeite, açafrão e pimenta preta, um restinho de favas e está o jantar feito, um gajo também tem de comer alguma coisa, atão 😋

Com a chegada da Primavera já apetece fazer uns petiscos na varanda com o amigo João Santana

Haja saúde e força aí pessoal…

16 comentários:

  1. Assim é que é, mais teimoso que as condições atmosféricas. Acima de tudo conseguiste quebrar os cardumes de dois, o que é bastante bom mesmo não sendo os maiores trofeus!!
    Grande abraço amig Lobo

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    1. Comé amigo Mata Chibos :)
      Epa neste dia acho que foi mais o querer aproveitar uma da ultimas oportunidades, já sabes como é isto por aqui, mas sim também com alguma teimosia à mistura ;)
      Para mim ter quebrado a barreira dos cardumes de um já tinha sido bom, dois melhor ainda e assim então é a pesca do ano, por estas bandas já sabes que não é aos pontapés como lá para cima...
      Um abraço e obrigado amigo, força aí...

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    2. Tá na hora de trocar a pesca pelas minis, vê la se apitas que já carreguei muitas sozinho e ainda vamos no inicio da primavera!!

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    3. Hahaha... Ok amig Cristóvão, é que isto há tanta coisa para ir petiscar que um gajo não consegue ir a todas e carteira também não aguenta, ainda hoje tive que dispensar um Galo caseiro :( logo te dou um toque um dia destes, abraço....

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  2. Olá Pedro,
    Conhece a expressão; "Quem peixe procura, peixeacha"?:):):)
    Ainda dizem que a pesca é fácil, grande mentira, se um gajo não se mentalizar, não sai do sofá, do aconchego da caminha, etc., mas um pescador tem que ser teimoso, resíliente, caso contrário, só vai fazer turismo!
    Boa teca, parabéns, contra ventos e tempestades.
    Um abraço,
    José Carlos Oliveira

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    1. Boas José Carlos!
      Haha sim já tinha ouvido, embora eu não a use muito :)
      Mas no fundo é isso mesmo...

      De fácil não tem nada, só o facto de sair da cama sem nada garantido já a torna difícil ;)
      E a teimosia muitas vezes compensa, falo por mim, e quando assim é tem muito mais sabor sem duvida ;)
      Obrigado e um abraço, força aí.

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  3. Viva,


    Que belo cardume! Tantas vezes que já saí de casa com chuva e vento e a pensar que mais valia ficar a dormir, mas depois no fim vale sempre a pena. Mesmo que o resultado seja um valente chibo a verdade é há que aproveitar enquanto cá estamos!

    Obrigado pela partilha!


    Muita saúde e muita força!

    Ab.,
    Filipe

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    1. Boas Filipe!
      Eu normalmente vou pela certa, porque as minhas pescas requerem muita logística, e neste dia só fui porque já tinha tudo preparado quando as alterações se deram, no entanto e já lá no spot depois daquilo tudo que já se tinha passado não estava com muita esperança e no entanto foi o que foi :)
      Obrigado eu pelo teu comentário, Haja saúde e dá-lhe aí ;)

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    2. Eu também prefiro ir pela certa, mas também gosto muito das alturas em que há mudanças mais bruscas na pressão atmosférica... antes do mau tempo, depois do mau tempo. A verdade é que quando menos se espera, eles aparecem! Por exemplo, aquele que foi o maior robalo que pesquei até ao momento no estuário do Mira foi capturado já com o sol bem visível, com a maré completamente cheia e parada (mal se notava a corrente do rio) e sem se notar actividade alguma na água. Era um caso gritante de "isto já não vai dar nada, vou voltar para casa", mas lá me apeteceu ficar mais um pouco e lançar mais umas vezes para uma que acho boa para um robalo fazer emboscadas, que é uma zona de transição de sapal para a corrente principal do rio, onde a profundidade aumenta muito em poucos metros, e pumba... o primeiro pensamento foi "então, aqui não há rochas, onde é que a amostra prendeu?", até que "a rocha" começou a levar linha. Ao fim de um pouco lá acabou por sair um bicho com 65cm e 3.1kg. O estar com material ligeiro tornou tudo mais divertido e ao mesmo tempo mais complicado, pois foi preciso trabalhar bem o peixe. A primeira coisa que fiz assim que ficou a seco foi olhar para o céu e agradecer ao meu avô. São estes momentos que ficam na memória :)

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    3. Filipe eu quando digo que vou pela certa quero dizer que tem de render ao máximo as horas de pesca e se possível fazer dois dias e naquelas alturas do ano em que mais gosto de pescar, e tudo isto só porque eu faço 2h de viagem para lá e mais 2h para cá, por vezes chegam a ser quase 300km naqueles dias que ando a procurar o pesqueiro, nos dias de hoje é muito dispendioso em combustível... Não posso pensar assim do tipo; vou ali fazer 1horinha e volto, ou vou ver se o mar me agradar fico se não volto para trás..... Em tempos já tive o privilégio de viver perto dos meus pesqueiros favoritos e podia dar-me a esse luxo porque estava a 5/10 minutos dos pesqueiros......... Continua com esse sentimento pelo teu avô, é uma coisa muito bonita.... Abraço e força aí....

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    4. Epá... peço desculpa. Eu já me tinha apercebido que a logística era muita, mas não tinha ideia que a distância era assim tanta.. agora percebo bem o "pela certa" e faz todo o sentido ser assim.

      Grande abraço e muita força

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    5. Estás desculpado :))) Abraço ;)

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  4. Mékié Lobão!
    Depois do CD mágico, vem um cardume de meia dúzia. Arranja-me um CD para mim autografado, sff :)
    Já deu para te entreteres e ter umas boas refeições!
    Essas unhas não enganam mesmo que são da terra do João e dão para beber umas 4 ou 12 de seguida bem geladas...
    Acho que ficou a faltar as favas e os abacates ou já deste cabo da horta ao homem, hehehe
    Grande e forte abraço Pedro

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    1. Óhh Chicão atão e que tal, tens andado desaparecido :)
      Hahahaha opá aquele CD faz milagres quando se trata de um gajo ir à luta ;) e de certeza que tu conheces a musica ;)
      Esta pesca foi qualquer coisa de ficar na minha memória, pelo facto de ter sido como foi.
      O João não falha quando se trata de arranjar umas unhas para os amigos ;)

      Epáá!! Este ano já não paro lá, ou não esteja o gajo à minha espera de caçadeira na mão ;))
      Obrigado Chicão, um grande abraço e força aí ;)

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  5. Boas Pedro,
    Eu não te disse que ainda fazes a pesca da década, este ano... Eles gostam é do verão... lol
    Não é para todos andar 3 horas, mas sempre a mandar amostras e depois voltar lá outra vez e com essas condições... uiiiiii...
    Mas desta vez compensou e bem, se tivesses levado uma caninha de surfacasting, nem sabias o que fazer a tantas capturas ao mesmo tempo... lol
    Parabéns pelas capturas e por esse calçado vintage, mete na net que ainda fazes umas coroas...

    Forte abraço e aperta com eles

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    1. Atão Manel tás bom!
      Quase que fazia Manel, por duas vezes, devem estar-se a guardar para virem todos de uma vez só... Gostam gostam, gostam eles mas não gosto eu :)
      Podes querer que neste dia quase que me borrifava para a pesca, mas a teimosia arrancou-me do saco cama e lá fui eu, isto cada maré é uma maré e o resto é conversa...

      Não isso não, ou levo uma coisa ou levo outra, mas se tivesse a pescar com duas canas ao fundo com certeza que o final tinha sido diferente neste dia...

      Vê lá os anos que os sapatos tinham que até as solas saltaram :)
      Obrigado e um abraço, força aí...

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