domingo, 26 de janeiro de 2025

Entre Tempestades

“Surfcasting”

Boas pessoal!

Desta vez a jornada que vos trago é na vertente de Surfcasting 😊 já os simpatizantes desta modalidade me tinham questionado quando é que vinha um relato de surfcasting, então aqui está ele, espero que gostem…

Recentemente a Costa Sul do Sul foi abençoada por uma bela tormenta, lindos dias escuros de chuva e vento, trovoada e agitação marítima, andei a seguir estas previsões com atenção a ver se conseguia escolher o dia e a hora certa para atacar, gosto de pescar nesta modalidade em dias de instabilidade…

Pisei o areal com o pé direito e comecei a caminhar em busca de um local que me agradasse para abancar o material, a uma certa altura enquanto caminhava, numa zona mais à frente cada onda que eu via cair parecia que o mar me dizia para ficar ali, era como se falasse comigo, perdi alguns minutos a observar o cenário e a tentar perceber o que os olhos muitas vezes não veem, depois disso lá decidi ficar e rapidamente me apressei a montar o estendal.

O meu maior inimigo no surfcasting (o limo) estava presente mas em pouca quantidade felizmente e deixava pescar bem, vinham umas tirinhas na linha mas nada de mais, só isso para mim já era um bom começo. Aos poucos a tempestade despedia-se deixando camas de sedimentos submersas e que por vezes repletas de alimento, nestas condições podem aparecer bons peixes em busca de uma refeição mas também a criação que nós aqui no sul do sul apelidamos de “ruama” e claro que estes são os primeiros a dizer presente, por cada dois lançamentos que fazia havia um anzol que vinha completamente limpo sem se ver a cana dar de sinal, para a próxima trago o frasco do piripiri que eles logo vêm como é… Pelo menos comigo funcionou há muitos anos atrás 😆😆 bom mas no meio disto tudo saíram uns pexecos que foram guardados e outros que foram devolvidos, tive um robalinho que embuchou de tal modo que foi uma trabalheira para o conseguir salvar, mas depois de uma pequena operação quase cirúrgica lá lhe consegui retirar o anzol da boca do menino e por fim foi devolvido ao Oceano, foi uma alegria para ele e também para mim…

Com o chegar da noite a actividade cessou quase por completo, até a ruama desapareceu, pensei que tinha ali uma oportunidade de apostar num peixe maior e fui-me aguentando, passaram-se 2h e a minha insistência mantinha-se verificando as canas a cada vinte minutos ajeitando e repondo as iscas com a melhor apresentação possivél, àquela hora o salitre acumulado em redor dos olhos já se tornara áspero... Até que numa dessas rondas que fazia às canas eis que uma delas tinha boas noticias, a linha estava bastante folgada e ligeiramente para a direita (gosto tanto quando isto acontece 😊😊)

Assim que estiquei a linha apercebi-me de que tinha ali um bom Robalo, ao levantar a cana o velhaco baixou-a outra vez (Uááái que este tem dificuldade e aceitar ordens querem lá ver, deve ter problemas em lidar com a autoridade) eu bem tentava vira-lo para terra mas ele puxava para fora… (Olha  lá o gajo cheio de moral hããm, a tua sorte é que eu estou com um 0,20 no carreto se não logo te dizia como é que era) como estava a pescar em areia e tinha tempo estava à vontade, aos poucos fui recuperando a linha e caminhando com ele pela praia até o velhaco dar em seco e encalhar nos meus pés, foi um peixe lutador que se debateu até ao ultimo instante, era só uma questão de tempo, eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele iria aparecer 😊

As restantes capturas, uma baila e uns Sargos de boa bitola foram fotografadas já em casa, pois a bateria da máquina acabou quando tirei as fotos do Robalo, pelo menos ainda deu para tirar três e escolher uma.

Um dia fui ali apanhar meia dúzia de lingueirões algures na Ria Formosa

Quando acabou o sal ainda tinha tempo e meti-me dentro de água pelo pescoço e consegui trazer umas belas canilhas.

Lingueirões abertos ao natural regados com limão e pão torrado com manteiga dos dois lados como diz o meu amigo Vidrinhos, isto dá para beber uma grade de cerveja 😄😋👌

Um gajo também tem de comer alguma coisa, atão 😊

Bom pessoal por hoje é tudo, agora está aí outra tempestade para fazer mais uns dias de defeso natural para todas as espécies, o Mar manda-me ficar em casa e eu obedeço.

Saúde da boa e fiquem bem...


 

domingo, 19 de janeiro de 2025

Noites Gélidas

“Spinning”

Ora viva pessoal!

As noites gélidas dos últimos dias nada convidam a sair de casa para tentar a sorte, no entanto aqui o teimoso não quer ficar demasiado tempo sem fazer uma pesquinha e tive de arranjar alternativas e arriscar, depois de estudar bem a direcção da vaga e o seu período tracei um plano para quele dia…

O tempo estava frio e as casas salteadas pelos vales e encostas esfumaçavam pelas chaminés, um cheirinho a madeira queimada das lareiras entrava pela janela da carrinha meio aberta (gosto tanto daquele cheiro em dias frios) os piscos cantavam naquele final de tarde e as gentes locais preparavam-se para mais uma noite de frio abrigando os animais e fechando as janelas…

Nesta vez pesquei em dois spots diferentes, não gosto de mudar de sítio mas teve de ser devido ao volume de água que o pesqueiro ia perder.

No primeiro spot comecei a pescar ainda cedo e logo detectei alguma actividade na zona, este Robalo da foto a cima foi quem abriu o marcador, volta e meia tinha um ataque, alguns ferravam outros não, devolvi dois robalitos e ainda guardei três no total, para começar não estava mal e já dava animo para enfrentar o resto da noite…

Estava na hora de ir ali dar uma porradinha a outro pesqueiro porque neste já não se passava nada e a amostra já prendia demasiadas vezes nas pedras, mesmo a pescar com a “Atila” que é uma amostra que afunda muito pouco e não me estava a apetecer perdê-la, até porque esta menina ainda tinha trabalho para fazer naquela noite…

Entretanto e antes de mudar achei melhor fazer uns ovos mexidos com atum para evitar aquela sensação de fraqueza de que eu não gosto nada, o tomate quase congelado achei melhor pô-lo em cima dos ovos quentes, um gajo também tem de comer alguma coisa, atão 😋

Fiz me à estrada e quando lá cheguei ao segundo spot não vi pescadores, como eu gosto de pescar sozinho calhou bem, a cana já ia quase montada e foi só encaixar para começar a lançar, tirei o Robalote da foto em cima e depois de algum tempo sem sentir nada resolvi ir à carrinha guardar o peixe e fazer um café para aquecer o motor…

Material utilizado:

Cana: Hunthouse Puncture 2,73m

Carreto: 4500

Multi: 0,18

Amostra: Átila (Hunthouse)

Um café quente para empurrar o bolo-rei e mais qualquer coisa para aquecer o coração e a alma  😉

De seguida voltei ao ataque e durante cerca de 1h:30m sensivelmente estive entretido a fazer uns lançamentos onde ainda saíram mais uns pexecos kileiros…

O resultado final foi este, uns pexecos para compor a geleira, sei que a foto não é a mais apresentável mas neste dia teve de ser assim…

Uma foto de uma baila apanhada há uns dias que já quase caía em esquecimento (uma curiosidade, vários peixes que tenho apanhado esta temporada com marcas de ataques de outros predadores)

Um dia destes um passarinho ouviu por aí uma conversa e depois veio-me contar ao ouvido (Áh e tal aquele gajo tem uma sorte do caraças, até parece que os Robalos vão ter com ele)… Deixa-te estar aí em casa no sofá tapado com a manta que os Robalos logo vão ter contigo… E depois diz que sou eu que tenho sorte… 😆😆

Falésias que ditam a fronteira entre a Terra e o Mar.

Uma maré de berbigão da Ria Formosa para desenjoar dos búzios e das canilhas.

Depois do estágio desta semana acho que estou preparado para ir pá Sibéria de calções e blusa de alças 😂😂

Tinha aí uns planos para pôr em prática mas não está a ser possível, enfim é o Mar é quem manda e nós só temos que obedecer, se ele diz que não é não…

Por hoje é tudo pessoal, saúde e força aí….


 

domingo, 12 de janeiro de 2025

3 h da Manhã

“Spinning”

Boas pessoal!

Poucos dias se tinham passado da última investida na noite da passagem de ano e resolvi fazer um novo ataque, como a coisa tinha corrido bem naquele laredo resolvi voltar lá de novo a ver se tinha ficado por ali algum peixe comprido esquecido 😉

Há jornadas de pesca que são fruto do próprio dia, mas ele há outras jornadas ou outras capturas que são o resultado da experiência que se vai adquirindo ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito ao conhecimento do pesqueiro em si, laredos como este com caneiros onde os Robalos se passeiam calmamente sem dar nas vistas dos seus predadores (nós os humanos) e ao mesmo tempo passam despercebidos das suas presas favoritas, esperando assim o momento certo para caçar pequenos polvos, camarões, cabozes e até navalheiras, presas que por sua vez tentam confundir o Robalo camuflando-se no seu meio envolvente. 

Depois de uma viagem de mais de 100 km cheguei ao spot no final do dia e dei uma olhadela ao mar para ver como estava a sua cor e tamanho, recolhi-me então aos meus aposentos para esticar e descansar o esqueleto que estava maçado de uma maré de búzios que tinha feito nessa manhã bem cedo, rapidamente adormeci e umas horas mais tarde acordei com uma foméca daquelas que só mesmo uma comida à homem consegue atamancar, sai uma feijoada quentinha com pão torrado e um copo de vinho, um gajo também tem de comer alguma coisa atão 😆

Logo de seguida uma cafezada com um Cardhu e uma melga prestes a aterrar na minha torta que também foi na virada, ninguém a mandou fazer-se de convidada 😄

Já perto das 3h da manhã e com muito cuidado tal e qual na última vez fui descendo aquele buraco que fica lá para os lados dos confins do mundo, desta vez o mar era menos o que me deixou logo de início mais descansado, pois não iria ter aquelas escoas nem os rebolos a baterem-me nas canelas.

Em acção de pesca não foi preciso esperar muito para uma baila bem jeitosa jogar-se à minha amostra, peixe cá fora e mais meia dúzia de lançamentos a sua irmã também comprou o bilhete de passagem do estado liquido para terra firme. Falando eu comigo mesmo (olha a coisa até nem vai mal, hoje é o dia das bailonas kileiras), pensava eu que era o dia das bailas pois não apareceu mais nenhuma.

Estava na hora dos Robalos marcarem presença também nesta jornada e sai um Robaleco já bom, fiquei satisfeito pois já tinha três peixes jeitosos ao spinning o que nos dias de hoje é bastante positivo, foi preciso esperar um bom bocado e fazer uma série de lançamentos até conseguir convencer o segundo Robalo a abrir a boca, este já maiorzinho do que o outro era um peixe energético e que me deu um gozo tira-lo por entre aquelas pedras.

Posso dizer que nesta noite o mar recebeu-me de braços abertos com quatro bons peixes, foi uma noite dançando e saltando de pedra em pedra.

Material utilizado:

Cana: 3 m

Carreto: 4500

Multi: 0,18

Amostra: Átila da Hunthouse

Já de manhã cedo antes de abandonar o local aproveitei para beber um café quente naquela manhã fria enquanto observava a beleza daquele sítio, sinto-me bem aqui, sou viciado nestas paisagens, neste cheiro, neste clima, mas ao mesmo tempo sinto alguma tristeza quando vejo que o turismo está a “estrangular” a verdadeira essência e magia destes spots, a excessiva exploração de algo tão potencial como lhe chamam será certamente a sua morte…

Liberdade

Mar

Búzios

Pessoal por hoje é tudo, haja saúde e portem-se bem 😏


 

domingo, 5 de janeiro de 2025

Passagem de Ano

“Spinning”

Boas pessoal!

Com os olhos postos em boas condições que iam estar na noite da passagem de ano não podia perder tal oportunidade, já lá vai o tempo que para mim essa era uma noite de folia, confusão, barulho e claro muita bebida, foram muitos anos a passar em sítios diferentes de sul a norte do País e até fora dele, agora já chega dessas loucuras e não é de hoje que percebi que não há nada melhor do que passar essa noite a fazer aquilo que mais gosto, nem que seja sozinho…

Ainda desafiei dois ou três amigos de confiança a ver se alinhavam a fazerem o que mais gostam nesta noite mas foi em vão, ou a mulher não deixa e põe-me as malas à porta, ou a sogra fica amuada, ou os filhos ficam tristes, outros é a gata que está com o período, outros é porque está frio e sei lá mais o quê, tudo serve de desculpa, cambada de mariquinhas é o que é 😆😆

Ao final do dia a temperatura caiu e abriguei-me na carrinha a fim de poupar energias para uma noite que eu previa dura e cansativa, como a meia-noite não coincidia com a hora que eu queria começar a pescar resolvi adiantar o relógio 1h, se tenho que mudar a hora duas vezes por ano porque o sistema autoritário assim o quer porque não fazê-lo apenas por um dia porque me convém a mim e ainda mais sabendo eu que há países que fazem a passagem de ano 1h antes de nós, hoje quem manda sou eu e as coisas vão ser feitas à minha maneira (pensei eu naquele dia) 😉

Estava eu enrolado dentro do saco cama quando o despertador avisa que era hora de ir lá para fora enfrentar os elementos da Natureza e preparar a ceia de ano novo porque um gajo tem de comer alguma coisa antes da pesca, atão 😆 refeição simples e rápida, uma salada fria com uns rissóis gelados e toca de dar ao dente, para desembaçar uma garrafa de papa figos que o amigo Lucas me tinha oferecido (obrigado cabeçudo podes trazer outra que esta já era) 😄

Quando dei por mim eram 24h no meu relógio e sem fogo-de-artifício nem foguetes abri a minha garrafinha de champanhe para acompanhar as passas e as empanadilhas como manda a tradição, este ano também alterei o nrº de passas e subi para 50, claro que os cinquenta desejos foram 50 Robalos, já que é para pedir um gajo pede logo à grande atão 😂😂

Desci o laredo com cuidado pois neste pesqueiro existe um conflito antigo entre a falésia e o mar, o que faz que com alguma regularidade se soltem umas pedras de tamanho considerável e caiam no aceiro que existe junto à mesma, dava jeito uma luz forte mas tive receio que afugentasse algum Robalo esquivo que andasse lá em baixo, passo a passo com muito cuidado cheguei ao fundo do laredo em segurança, arranjei um lugar para pousar o ceirão e por cima das pedras escorregadias caminhei até perto da água para poder fazer uns lançamentos.

Faço o 1º lançamento não muito longe só para molhar o multi e à 2ª manivelada levei uma cacetada surpresa que até me assustei, pois não estava à espera de ser recebido assim logo ao 1º lançamento de 2025, agarrei um bom Robalo mas foi por pouco tempo, pois o velhaco soltou-se depois de me dobrar a cana por breves instantes, houve palavrões e pedras a voar que até entoava naquele buraco fundo e escuro, fiquei com um nó na garganta e tive de emborcar a garrafa de champanhe para aquilo passar, no momento não sabia se era um bom ou mau presságio, mas depois lembrei-me que o meu 1º Robalo do ano tinha acabado de ser libertado para ajudar a preservar a espécie, como já tinha dito anteriormente agora é assim que eu entendo que sejam as minhas libertações e todos os outros abaixo da medida ridícula imposta por lei…

Voltei à acção e os lançamentos sucediam-se uns seguidos dos outros, o mar ainda tinha um toque e volta e meia vinha um set que do nada metia-me a água quase pela cintura e fazia com que volta e meia algumas pedras me batessem nas canelas, a leika killer voava em formação de leque a fim de cobrir todos os metros do spot e foi num desses lançamentos que ferro o 2º Robalo da noite e este sim, estava bem ferrado e com a ajuda do mar veio até mim que gentilmente lhe joguei a mão e o guardei na saca...

Aproveitei para dar mais um gole no champanhe e voltei aos lançamentos quando já mais tarde levei uma valente porrada e logo me fez perceber que tinha lá um peixe de outro calibre, durante breves momentos medimos forças, eu mantive pulso firme enquanto o velhaco teimava em não me fazer a vontade, aos poucos lá o fui trazendo na minha direcção e já ali pertinho quando lhe ia ceder passagem do estado liquido para terra firme dei de caras com uma onda quase do meu tamanho a fazer-me peitos e o meu instinto foi abrir a alça do carreto e correr o mais rápido que pude para cima, a força da onda trouxe o peixe até mim mas logo de seguida o levou de novo para baixo, nisto vem outra e faz o mesmo mas agora já tinha o drag regulado e o carreto a soltar multi que até zunia, vem uma terceira onda e eu mais uma vez tentei recuperar o mais rápido que pude mas foi inevitável, aquela forte escoa acompanhada de rebolos lá me levou o velhaco para baixo novamente, vi jeito de fazer a minha segunda libertação forçada na primeira jornada do ano...

Costuma-se dizer que à terceira é de vez mas neste caso foi só à quarta, uma onda com menos força ajudou mais uma vez a trazer este velhaco para cima e tive de confiar no material e leva-lo ao limite arriscando que alguma coisa partisse ou abrisse com a força que a onda puxava o peixe para baixo mais uma vez, quando lhe consegui meter a vista em cima e comprovei que estava bem ferrado peguei no chicote e arrastei-o com calma para uma zona segura e sentei-me a olhar para aquele lindo Robalo que em poucos segundos me trocou o frio que sentia por um calor que me fez transpirar, no estado em que fui encontrar o fluorocarbono posso dizer que tive sorte em não ter perdido este peixe, foi uma batalha intensa que deixou feridas de ambos os lados e é por momentos como este que eu espero o ano todo e abdico de tantas coisas na vida… 

Material utilizado:

Cana: 3m

Carreto: 4500

Multi: 0,18

Amostra: Leika Killer (versão flutuante)

Este já deu umas belas costeletas e agora já posso alterar a hora novamente para estar em sintonia com as horas do sistema autoritário e ladrão…

Passeio no dia de Ano Novo

Esta ainda foi uma maré feita no ano passado

Búzios 

Bom pessoal por hoje é tudo, desculpem aqueles que são mais preguiçosos para ler mas desta vez tive de me alongar na escrita 😊

Bom Ano para todos vocês e com saúde…